Sustentabilidade alinhavada

Microempresa organiza rede de costureiras e as ensina como contribuir para a conservação do meio ambiente por meio das ecobags, uma iniciativa pessoal para ser levada debaixo do braço

Siomara conheceu Carla na escola onde os filhos especiais de ambas estudam, em São Paulo. Formada em Publicidade e com muito interesse em moda, Siomara Cordeiro de Mello sempre gostou de desenhar produtos. Carla Simone Padula, por sua vez, tinha uma pequena empresa de confecções, herança de família. Compartilhando seus interesses e conhecimentos, as duas resolveram transformar o encontro cotidiano numa microempresa com um ideal: construir um mundo melhor. Estava feito o primeiro laço de uma rede de sustentabilidade que ainda não parou de crescer: a Modelandomundo. A produção principal é de sacolas feitas com retalhos reciclados para substituir os saquinhos plásticos nas compras. Mas os objetivos vão além do comercial: são também socioambientais e educacionais.

Como mães de crianças portadoras de deficiência, Siomara e Carla precisavam aumentar a renda familiar e, pouco mais de um ano atrás, já dedicavam todo o tempo livre à produção das sacolas. Apesar do esforço, não davam conta da demanda, então surgiu a ideia de montar uma rede de costureiras com outras mães em situação semelhante. “A maioria das mães cujos filhos tem algum comprometimento tem dificuldade em obter um trabalho e, também, tempo. Então, nós juntamos o que tínhamos”, conta Siomara. As costureiras trabalham juntas, mas no ritmo possível e no tempo disponível, recebendo por produção, conforme a experiência.

As sacolas reutilizáveis (ecobags) foram escolhidas como ‘carro-chefe’ por serem fáceis de trabalhar em casa, além de poderem ensinar muito: “Pensamos em fazer um produto que seja bacana e, ao mesmo tempo, possa colaborar com o meio ambiente”.

As sacolas são práticas e bonitas, feitas a partir de retalhos de tecidos diversos ou do chamado Tecido Não Tecido (TNT), um material à base de fibras aglomeradas que não passam por fiação e tecelagem como os panos tradicionais. Depois de costuradas, as sacolas ainda recebem um acabamento manual.

Para incentivar os consumidores a criar o hábito de usar as sacolas reutilizáveis, Siomara deu uma cara nova ao produto, sem o estereótipo de brinde ecológico de empresas. Segundo ela, “o logo muito grande atrapalha na conscientização, não cria o hábito”. Na loja virtual o consumidor pode escolher entre 12 modelos distintos.

O bom retorno do público logo na primeira feira de artesanato mudou o foco dos investimentos para a educação ambiental. As encomendas, hoje, chegam a 3 mil unidades por pedido, mas as microempresárias pretendem se estruturar para manter uma produção mensal de 10 mil sacolas.

Para começar, as duas sócias foram atrás de um grupo de costureiras em Itaquaquecetuba, cidade da Zona Metropolitana da Capital paulista, onde as mulheres ganhavam pouco para trabalhar em grandes confecções do Brás, em São Paulo. Seis costureiras terceirizadas foram contratadas. Trabalhando juntas, elas aprendem a valorizar o próprio trabalho e, com o tempo, também assimilaram seu papel na conservação ambiental. “É uma transformação completa na vida, porque a gente já estava usando essas sacolas mais retornáveis, pensando no nosso futuro”, comenta Sheila da Silva Araújo, uma das costureiras. “Para nós foi muito bom porque a gente passou a dar valor para o meio ambiente”.

“Quando se faz a educação ambiental, a ideia não passa batida”, resume Siomara. “O trabalho conscientiza e cria responsabilidades, fazendo a mentalidade nova transformar-se em ação”.

Mesmo sem grandes recursos, Carla e Siomara enxergam longe. Elas querem fortalecer uma cooperativa de costureiras, na qual a produção seja valorizada. Ao mesmo tempo, pensam em chamar outras mães que queiram aumentar sua renda trabalhando em casa. O ganho final é a mudança de mentalidade e de hábitos de consumo tanto para quem trabalha na Modelandomundo, como para quem compra e utiliza as ecobags .

Para saber mais, visite o site www.modelandomundo.com.br

Reportagem publicada na revista mensal Terra da Gente, ano 6 número 67, novembro de 2009.

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